Com o avanço da tecnologia, existem no mercado inúmeras drogas
para tratar o DM2. E frequentemente o paciente precisa tomar dois ou mesmo três
medicamentos diferentes. Por que tantos remédios? Porque o diabetes tipo 2 é uma disfunção
multifatorial. Ou seja, a alteração de glicemia pode ser causada por fatores
diversos (leia.Não é pouca ciosa). Todos os agentes antidiabéticos têm por objetivo final
melhorar a glicemia. Mas existem especificidades, ou seja, cada um atua de
forma a corrigir um dos erros de metabolismo que causam o descontrole glicêmico. Dá para
dizer que um DM2 não é igual ao outro. E o “coquetel” de
medicamentos vai variar de paciente para paciente.
O médico – e somente ele – é o profissional que vai
determinar qual (quais) remédio (s) é melhor para o seu caso. O que é feito
dentro de certos critérios, no caso do Brasil definidos pela Sociedade
Brasileira de Diabetes (SBD):
- Estado geral, peso e idade do paciente.
- Comorbidades presentes (complicações do diabetes ou outras, como hipertensão e dislipidemia).
- Valores das glicemias de jejum e pós-prandial, bem como da hemoglobina glicada.
- Eficácia do medicamento.
- Risco de hipoglicemia.
- Possíveis interações com outros medicamentos, reações adversas e contraindicações.
- Custo.
- Preferência do paciente.
Além disso, no final da década passada o FDA (Food and Drug
Administration) – agência dos Estados Unidos que regula a produção e
comercialização de medicamentos –, passou a exigir que, para liberação, os agentes
antidiabéticos comprovem não apenas a eficácia em reduzir a glicemia, mas
também a segurança cardiovascular. Vários estudos começaram então a ser feitos
com esse objetivo. E qual não foi a surpresa ao se constatar que alguns desses
agentes antidiabéticos além de seguros também traziam uma redução
do risco do desenvolvimento de problemas no coração.
Como informação nunca é demais, vale saber como atuam os
medicamentos para diabetes que estão no mercado. Assim você pode discutir com o médico a conveniência/necessidade de mudar e/ou acrescentar mais um agente ao
seu tratamento, caso você não esteja conseguindo atingir a meta de glicemia com
o esquema terapêutico atual.
Classes de medicamentos:
Sulfonilureias
Ação: Aumento
da secreção de insulina
Princípios
ativos: clorpropamida (Diabinese), glibenclamida (Daonil), glipizida (Minidiab),
gliclazida (Diamicron), glimepirida (Amaryl).
Prós: O custo
é baixo e, em sua maioria, está disponível para dispensação no SUS. Estudos
mostram que a glicazida reduz o risco cardiovascular em 10% e aumenta a
proteção renal em 84%.
Contras:
hipoglicemia e ganho de peso (maior risco com clorpropamida e glibenclamida, menor
com a glicazida).
Metiglinidas
Ação: Aumento
da secreção de insulina
Princípios
ativos: repaglinida (Prandin, Novonorm), nateglinida (Starlix).
Prós: ação
rápida; maior flexibilidade.
Contras:
hipoglicemia e ganho de peso
Biguanidas
Ação: Aumento
da sensibilidade à insulina. Redução da produção de glicose pelo fígado.
Princípio ativo:
metformina (Glifage)
Prós: Medicamento
antigo, portanto largamente testado.
Contras: Desconforto
abdominal, diarreia e náusea (menor na versão XR, de liberação prolongada). Deficiência
de vitamina B12. Risco de acidose lática (raro).
Inibidores da alfa-glicosidase
Ação: Retardo
da absorção de carboidratos
Princípio ativo:
acarbose (Glucobay).
Prós: Redução
da glicemia pós-prandial. Melhora do perfil lipídico.
Contras: gases,
flatulência e diarreia.
Glitazona
Ação: aumento
da sensibilidade a insulina (músculo, fígado e tecido muscular)
Princípio ativo:
pioglitazona (Actos, Stanglit)
Vantagem: Melhora
do perfil lipídico. Redução de gordura do fígado (esteatose hepática). Redução
de triglicerídeos.
Desvantagem:
Retenção hídrica, anemia, ganho de peso, insuficiência cardíaca e aumento de
risco de fraturas.
Gliptinas (inibidores da
DPP-4)
Ação: Estimula
as células beta do pâncreas, na presença de glicose, a aumentar a síntese de
insulina e reduzir a produção de glucacon
Princípios
ativos: sitagliptina (Januvia), vildagliptina (Galvus), saxagliptina (Onglyza),
linagliptina (Trayenta), alogliptina.
Prós: segurança cardiovascular, redução da
hemoglobina glicada sem hipoglicemias ou aumento de peso.
Contras: Angioedema (inchaço em algumas
regiões do corpo, como lábios) e urticária. Possibilidade de pancreatite aguda.
Possível aumento das internações por insuficiência cardíaca.
Análogo (agonistas) do GLP-1
Ação: Aumento do nível da enzima GLP-1, com
aumento da síntese e secreção de insulina, além da redução na produção de glucagon.
Retardo do esvaziamento gástrico. Aumento da saciedade.
Princípios ativos: exenatida (Byetta), liraglutida (Victoza), lixisenatida
(Lyxumia).
Prós: Redução de peso. Redução da pressão
arterial sistólica. Melhora da glicemia pós-prandial. Redução de eventos cardiovasculares e
mortalidade em pacientes com DCV (liraglutida).
Contras: Injetável. Hipoglicemia, principalmente
quando associado a secretagogos. Náusea, vômitos e diarreia. Aumento da frequência
cardíaca. Possibilidade de pancreatite aguda.
Inibidores do SGLT2 (glifozinas)
Ação: Bloqueia a ação da proteína responsável
pela reabsorção da glicose no rim, levando à eliminação do excesso de açúcar na
urina.
Princípio ativo: dapagliflozina (Forxiga), empagliflozina
(Jardiance), canagliflozina (InvoKana).
Prós: Rara hipoglicemia. Redução de peso. Redução
dada pressão arterial. Redução de eventos cardiovasculares e mortalidade em pacientes
com doença cardiovascular estabelecida.
Contras: Aumento da ocorrência de infecções
genitais e urinárias. Poliúria (aumento da micção). Pressão baixa e confusão
mental. Desidratação. Aumento do colesterol LDL. Aumento transitório da creatinina.
Cetoacidose diabética.
Há ainda no mercado
algumas combinações de medicamentos. Há misturas de biguanidas (metformina) com
sulfoniureias (glibemclamida ou glimipirida) e com glipitinas. Também existem
associações de insulinas de longa duração (glargina e degludeca) com agonistas de GLP1 (liraglutida e
lixisenatida), na mesma injeção. O objetivo das associações é obter o “melhor
de dois mundos”, ou seja, potencializar os efeitos dos dois fármacos em um
mesmo produto, melhorando a eficácia e, sobretudo, facilitando a adesão ao
tratamento.
Se você está fora da
meta de glicemia e hemoglobina glicada, pode ser o caso de mudar ou acrescentar
um novo agente antidiabético ao seu esquema terapêutico. Mas reitero: CONVERSE COM O SEU
MÉDICO. Não vale passar a usar aquele “remédio milagroso” que seu vizinho
começou a tomar e deu um resultado “super bom”. É lugar comum, mas sempre é bom
lembrar que “cada um é cada um”. O que serve para o seu vizinho pode ser
desastroso para o seu tratamento.
Mas não vale também
estagnar, ficar conformado com uma hemoglobina glicada de 9% ou uma glicemia
pós-prandial de 230 mg/dl. Há muita ciência na área de diabetes e é preciso
aproveitar. Sua saúde agradece.
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