A monitorização da glicemia é a principal ferramenta de
autoconhecimento para quem tem diabetes. Ninguém tem bola de cristal para saber
como estão os níveis de açúcar no sangue. Não adianta jogar búzios, tirar tarô
ou chamar o síndico: para conferi a glicemia, só com o furinho no dedo.
O teste de glicemia capilar – chamado informalmente de
“ponta de dedo” – reflete o nível glicêmico atual e instantâneo. Ou seja, o
número que aparece no aparelhinho é o tanto de açúcar que tem no sangue no
momento exato do teste. Como uma fotografia.
Feito rotineiramente, o teste permite que a pessoa com
diabetes avalie sua resposta individual à terapia e se os alvos glicêmicos
estão sendo alcançados. O respaldo é oficial: a influente American Diabetes
Association (ADA) considera a automonitorização glicêmica como parte integrante
do conjunto de intervenções e como componente essencial de uma efetiva
estratégia terapêutica para o controle adequado do diabetes. Os resultados da
automonitorização devem ser integrados ao gerenciamento do diabetes de forma a
orientar a alimentação e a prática de atividade física, prevenindo hipoglicemias
e permitindo ajustes nos medicamentos.
Mesmo sendo assim tão importante, é uma ferramenta
subutilizada, especialmente pelas pessoas com DM2. No diabetes tipo 1, a
automonitorização é essencial para ajuste de doses de insulina. Mas não dá mais
para questionar se monitorar é útil no DM2. Ok, não é preciso fazer 6 a 8 testes
por dia, como no diabetes tipo 1. O que fazer, então?
Não existe um consenso entre os especialistas sobre qual o
esquema ideal de automonitorização da glicemia para o diabetes tipo 2. As
diretrizes sobre as frequências recomendadas e os horários para a realização
dos testes variam entre as entidades científicas internacionais. Talvez por
isso, o que se vê na prática é que a maioria das pessoas com DM2 não tem ideia
do que acontece com a glicemia durante o dia. Em geral, realizam testes
isolados e esporádicos. Na melhor das hipóteses, fazem o teste apenas pela
manhã, em jejum. O que, na prática, pouco serve para avaliar o controle
glicêmico. Ou avalia apenas um aspecto do controle.
Mas o consenso existe sobre a necessidade de maior frequência
de testes e em horários diferentes, além do jejum. Principalmente antes (glicemia
pré-prandial) e depois das refeições (pós-prandial, teste realizado 2 horas depois
do início da refeição). As pesquisas mostram que a glicemia alta nesse período
pós-prandial é um fator independente de risco para as complicações macrovasculares
(especialmente doença cardíaca), trazendo maior perigo também para retinopatia,
câncer e comprometimento da função cognitiva (em idosos). O alerta vem da International
Diabetes Federation (IDF).
Daí porque cada pessoa com diabetes tipo 2 deve encontrar, junto
com a equipe médica, qual a frequência de testes mais recomendada e a mais viável
para o seu caso. Deve ser levado em conta, na hora de definir o esquema de
automonitorização da glicemia, quais as condições clínicas específicas de cada
pessoa e de cada momento do tratamento.
A Sociedade Brasileira de Diabetes, no seu posicionamento
oficial sobre a Conduta Terapêutica no Diabetes Tipo 2, de 2018, recomenda a
prática da automonitorização de acordo com a tabela abaixo:
E então? Vamos começar a monitorar a glicemia? Não
desperdice um recurso tão fundamental para seu autoconhecimento. E, portanto,
para a sua saúde.
Para ajudar, no próximo post vamos conversar sobre como realizar
o teste e como usar os resultados para melhorar o seu tratamento.
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