Isso sem
contar as pessoas não diagnosticadas – 46% dos casos do planeta, segundo as estimativas
mais otimistas. Considerando, porém, que nos países em desenvolvimento o
não-diagnóstico pode superar 83%, chega-se facilmente a um montante de 10
milhões de indivíduos no país que nem desconfiam que têm diabetes.
Por que esse
descontrole?
A principal
causa é a falta de adesão ao tratamento, que afeta entre 48% e 77% dos
pacientes (os estudos não conseguem dados precisos). Número expressivo, em qualquer dos
casos.
A medicação
até tem adeptos: a adesão é de cerca de 80%. Mas no diabetes só tomar os
remédios e/ou insulina não basta. É essencial para o bom controle associar
alimentação saudável e atividade física regular. Também é fundamental ter o
tratamento constantemente reavaliado, para garantir a cada indivíduo o medicamento
mais adequado, usado de maneira correta e suficiente.
São diversas
as prováveis causas da baixa adesão e do mau controle. Em primeiro lugar as
características do próprio diabetes: condição crônica, que demanda um
tratamento de longa duração (a vida inteira...), complexo, caro, que exige
cuidados diários, em muitos momentos do dia e de naturezas diversas
(alimentação, monitorização, remédios etc.).
Do ponto de
vista da pessoa com diabetes, a falta de motivação deriva da dificuldade de
aceitação da doença, sem falar do medo, da tristeza, da vergonha. Além disso,
nem sempre a pessoa tem as habilidades necessárias para o autocuidado. Precisa
aprender não só coisas práticas – fazer testes de glicemia, por exemplo –, como
questões mais sutis, como as melhores escolhas alimentares. Para isso, precisa
do apoio da família, da sociedade e dos profissionais de saúde. O que nem
sempre encontra.
Sim, um dos “pilares”
desse quadro desalentador é a dificuldade de acesso aos profissionais de saúde
e, consequentemente, ao tratamento adequado. Não são muitos os profissionais capacitados
para lidar com o diabetes, o que leva à falta de uma padronização terapêutica e
à postergação das mudanças necessárias ao bom controle (a chamada “inércia
clínica”). E a educação em diabetes, que deveria ser a base do tratamento e o
caminho para o autocuidado, ainda engatinha por aqui.
O mau controle do diabetes traz, é claro, danos para
o indivíduo com DM2: elevação dos
níveis glicêmicos, aumento do
risco de complicações, de hospitalizações e mortalidade. Traz também prejuízos
para os serviços de saúde e para toda a sociedade, com aumento dos custos com o
tratamento, não só do diabetes propriamente dito, mas das complicações que se
instalam. Sem contar os custos indiretos decorrentes de incapacitações
(temporárias ou permanentes) e até mesmo da mortalidade prematura.
Para mudar
esse cenário, o que sugere a SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes)? O
estabelecimento e desenvolvimento de “novas e mais fortes parcerias entre
órgãos governamentais e sociedade civil, para maior corresponsabilidade em
ações orientadas para prevenção, detecção e controle do diabetes”.
É preciso
aumentar as ações de rastreamento a fim de identificar as pessoas com diabetes
ainda sem diagnóstico e ao mesmo tempo estabelecer ações junto aos já diagnosticados que não têm adesão e persistência no tratamento. Em contrapartida, é de
vital importância capacitar os profissionais de saúde, especialmente os que
atendem no setor público.
Unir
profissionais capacitados àqueles com diabetes que mais necessitam de ajuda é
aumentar o acesso à educação terapêutica. O que aumenta a adesão e, por consequência,
o controle.
Ok, esse pode
ser o sonho de um mundo ideal. Mas o que cada um, no seu canto, pode fazer? Não
vale sentar e chorar!
Volto a
insistir (e vou insistir sempre) que o primeiro movimento em direção à adesão é
ACEITAR o diabetes. É “sair do armário”. Reconhecer que tem uma condição
crônica que precisa de cuidado. Que depende de medicamentos adequados, insumos
suficientes e equipes de saúde capacitadas.
Aceitar o
diabetes significa, em resumo, buscar o melhor tratamento. Lutar pelo melhor
tratamento. Juntar-se às outras pessoas com diabetes, familiares, cuidadores e
profissionais para lutar pelo melhor tratamento.
Só assim, na
melhor tradição do “juntos somos mais fortes”, haverá esperança de desviar o trem e mudar a história do
diabetes.
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