Com frequência deparo com pessoas que dizem ter “diabetes emocional”. Normalmente, são aqueles indivíduos que tiveram o diagnóstico de diabetes após um trauma ou uma situação de estresse. A ideia não é nova: o médico inglês Thomas Willis foi o primeiro a relatar, no século 17, que pessoas em estados de tristeza ou estresse profundos desenvolviam diabetes.
Mas eu tenho que contar uma coisa para vocês: não existe
diabetes emocional ou qualquer tipo de diabetes causado pelas emoções. Diabetes
emocional não é diagnóstico.
Isso não quer dizer, de forma nenhuma, que as emoções não
tenham interferência no diabetes. E é aí que surge a confusão.
Explicando: todo mundo apresenta aumento de glicemia numa
situação de estresse. Seja um susto, uma tristeza profunda, uma crise no
trabalho, ansiedade, medo, raiva. Tudo que faz com que o corpo aumente a
produção dos chamados hormônios adrenérgicos (adrenalina e noradrenalina) eleva
o açúcar no sangue. Esses hormônios são contra-reguladores, ou seja, inibem a
ação da insulina. Portanto, fazem a glicemia subir.
Isso porque o organismo humano, que é na base o organismo de
um bicho, numa situação de estresse aciona mecanismos de alarme e se prepara
para lutar ou fugir. Então, mesmo em uma situação corriqueira – por exemplo, você
toma um susto ao atravessar a rua e leva uma buzinada na orelha –, imediatamente
há uma descarga adrenérgica, que acelera o coração e eleva a glicemia.
O que acontece com quem não tem diabetes é que, passado o
susto, imediatamente a produção de adrenalina baixa e a secreção de insulina
começa a voltar ao normal para reduzir o açúcar do sangue. Em quem tem diabetes,
esse mecanismo está “avariado”. O que significa que em uma situação assim a
glicemia sobe e permanece elevada.
E por que então desde aquele médico inglês as pessoas acham
que o diabetes pode ser causado por um problema emocional? Porque o estresse
pode ser o gatilho para o diagnóstico. Mas apenas quando as condições do corpo
já existem. A falha (ou falhas) no mecanismo de controle do açúcar do sangue
está presente. Daí acontece um evento estressor intenso. Pode ser a morte de
alguém da família, um assalto, um acidente de carro, o vestibular, o casamento.
Pode ser um estresse fisiológico, como uma infecção, um infarto, uma cirurgia. A
glicemia sai do controle e vem o diagnóstico. Fácil pensar que o diabetes foi
causado por aquela situação. Mas o estresse apenas evidenciou o diabetes.
Mais importante do que saber da existência ou não do diabetes
emocional é ter consciência de que a glicemia pode sim subir a cada situação
emocionalmente estressante. E ter consciência de que é preciso aprender a lidar
com essas situações para que isso não prejudique a sua saúde, incluindo aí o
diabetes. Se for só o susto com a buzina do carro, tudo bem. O problema é
quando o estresse se torna uma constante.
Estudos mostram que indivíduos muito estressados têm mais
dificuldade em cuidar da saúde, que dirá do diabetes. Têm uma alimentação
irregular, dormem mal, não praticam exercícios, bebem e fumam em demasia. Sem
contar que o estresse crônico eleva a secreção de um hormônio chamado cortisol,
diretamente relacionado ao acúmulo de gordura abdominal, que por sua vez
aumenta a resistência à insulina. E a glicemia sobe.
Então, se surgir uma situação estressante, de qualquer tipo,
fique de olho na glicemia. Intensifique as monitorizações, capriche na
hidratação e, se for o caso, converse com o seu médico ou equipe de tratamento.
E, sobretudo, procure relaxar. Faça yoga, meditação, passeie
no parque, brinque com o seu neto, cuide das plantas, vá ao cinema, à academia,
namore, dance! Qualquer coisa que possa permitir ao seu corpo lidar melhor com
as situações de alarme.
Ainda está difícil? Então simplesmente pare e respire. Sim,
a respiração é um instrumento simples e muito eficaz para o relaxamento. Sente-se
e respire profundamente, soltando o ar bem divagar. Faça isso por 3 a 5
minutos. Você relaxa, a adrenalina abaixa e a glicemia agradece.
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