O nome pomposo (do grego: sarx =
carne + penia = diminuição) revela um problema infelizmente não muito
raro: a perda progressiva e generalizada de massa, força e função muscular. Mais
comum entre idosos (no Brasil, atinge 16% das pessoas com mais de 60 anos), é
duas a três vezes mais frequente em indivíduos com diabetes. Com o
envelhecimento da população mundial, a prevalência da sarcopenia vem aumentando
na mesma proporção – o que não é diferente entre as pessoas com diabetes.
A sarcopenia é multifatorial. Ocorre pela alteração da
síntese de proteína aliada à redução da capacidade neuromuscular e ao aumento
dos processos inflamatórios.
O que diabetes tem a ver com isso? A hiperglicemia –
especialmente derivada da resistência à insulina, característica do diabetes
tipo 2 – eleva o risco de surgimento da sarcopenia, pode acelerar seu
desenvolvimento e agravar o problema quando já instalado. Isso porque glicemia
alta provoca aumento do catabolismo, que é o processo metabólico de destruição
de tecidos. Trata-se de um mecanismo natural do corpo, que atua em equilíbrio
com o anabolismo (a construção de tecidos). O problema é quando o catabolismo é
mais intenso do que o anabolismo – o que pode ser causado pela hiperglicemia. Vamos
entender: quando a glicemia está elevada, significa que a glicose ficou no
sangue e não foi para as células gerar energia. Isso inclui as células
musculares – as maiores consumidoras de glicose do organismo. Sem energia, as
células vão morrendo, levando à degradação das fibras musculares.
Falta de atividade física e alimentação de má qualidade são
outros fatores que levam ao surgimento/agravamento da sarcopenia, bem como tabagismo
e consumo de bebidas alcoólicas.
A sarcopenia não significa apenas “ser fraco”. Afeta o
equilíbrio, a marcha, a capacidade para executar tarefas da vida diária. Ou
seja, diminui a qualidade de vida. Além disso, está associada a maior número de
hospitalização, mais eventos cardiovasculares e maior mortalidade.
Nem tudo, porém, é notícia ruim. A sarcopenia pode ser
evitada. Mais: é reversível. Sim, é possível restaurar a capacidade física
funcional, com intervenções combinadas que incluem atividade física, plano
alimentar, com eventual suplementação de proteínas/vitaminas.
Por isso o diagnóstico precoce é fundamental, permitindo o
tratamento também precoce capaz de evitar a deterioração da qualidade de vida.
No diabetes, a sarcopenia pode aparecer na meia idade, antes da velhice, e por
isso precisa ser rastreada, investigada, para que possa ser revertida e/ou
controlada. Converse com seu médico!
E o que você pode fazer para prevenir a sarcopenia? Manter a glicemia sob controle, claro, evita a aceleração do catabolismo. Mas o melhor remédio e prevenção para a sarcopenia, para quem tem ou não diabetes, é a atividade
física, especialmente os chamados exercícios resistidos, para fortalecimento
muscular. Ou seja: você pratica exercícios de fortalecimento para não perder
força muscular. Simples assim.
Não por acaso a ADA (American Diabetes Association) e a SBD
(Sociedade Brasileira de Diabetes) colocam nas suas recomendações de atividade
física para quem tem diabetes tipo 2 a prática de exercícios de força, 2 a 3
vezes por semana. Além de promover fortalecimento e ganho de capacidade funcional, os
exercícios resistidos melhoram a sensibilidade à insulina e o controle da
glicemia (lembra que os músculos são os maiores consumidores de glicose do organismo?).
Mais: aumento da densidade óssea e mais saúde cardiovascular.
Melhor ainda se os exercícios resistidos forem combinados ao
treinamento aeróbio, de 30 a 60 minutos por dia, preferencialmente todos os
dias.
Você ainda tem dúvida de que exercício é remédio?
Fontes:
Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD): www.diabetes.org.br
The Society for Sarcopenia, Cachexia and Wasting Disease: http://society-scwd.org/
Sarcopenia: a
chronic complication of type 2 diabetes mellitus. Heloísa Trierweiler,
Gabrielle Kisielewicz, Thaísa Hoffmann Jonasson, Ricardo Rasmussen Petterle,
Carolina Aguiar Moreira, Victória Zeghbi Cochenski Borba. Diabetol Metab
Syndr. 2018; 10: 25
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