quarta-feira, 5 de junho de 2019

Insulina inalável chega ao Brasil. E o que isso tem a ver com você?


O assunto da semana no mundo do diabetes foi a aprovação da venda no Brasil da insulina inalável. O produto é fabricado pelas empresas Biomm e MannKind Corporation, foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e atende pelo nome de Afrezza.
Ok, você já leu as informações que circularam na mídia nos últimos dias e deve ter pensado que não tem nada a ver com você, porque “é coisa para diabetes tipo 1”. Engano!
Embora a própria mídia tenha destacado o novo produto como “mais indicado” para o DM1, eu particularmente acredito que a Afrezza possa ser sim um grande aliado no tratamento do diabetes tipo 2. Uma importante ferramenta para ajudar a mudar a situação atual da insulinização dos DM2 brasileiros, que não passam de 10%. (leia Insulina sem estigma - parte 1 e Insulina sem estigma - parte 2)
Por quê? Vejamos!
A nova insulina é aspirada por meio de um inalador, pequeno e discreto, o que facilita o uso do produto, especialmente nas chamadas situações sociais. A insulina inalável é vendido em pó, em cartuchos com doses fixas (4, 8 e 12 unidades) que são colocados no inalador. Um procedimento muito simples. Vantagem para o DM2: menos picadas, menor constrangimento social.
Ok, a insulina inalável apenas reduz. a necessidade de injeções, ou seja, não vai deixar você livre das agulhas. Isso porque a Afrezza é capaz de substituir só as aplicações de insulina rápida ou ultrarrápida. O chamado “bolus” para cobrir o carboidrato das refeições ou, se necessário, corrigir uma glicemia elevada. A insulina de longa duração e ação basal (NPH, glargina, degludeca, levemir) continua sendo administrada por injeção.
Pode não parecer, mas mesmo assim as vantagens são muitas. Boa parte dos DM2 insulinizados aplica apenas a insulina basal. Com a inalável, aumenta a chance de adoção de uma terapia plena, garantindo também o controle da glicemia nas refeições. Vale lembrar que a Federação Internacional de Diabetes (IDF - International Diabetes Federation), com base em diversos estudos científicos, considera a chamada hiperglicemia pós-prandial (depois da refeição) um fator independente de risco para a doença macrovascular (do coração), com impacto também no aumento do chance de desenvolver outras complicações, como retinopatia, câncer e comprometimento da função cognitiva.
A Afrezza, além de ser mais prática para uso na hora das refeições, apresenta – segundo o fabricante – a vantagem de ter uma ação mais rápida do que as demais do mercado. É absorvida rapidamente pela corrente sanguínea e começa a agir em 10 minutos, com pico de ação em 15 minutos, e um efeito que dura de 2 a 3 horas. Isso significa mais eficiência para controlar a glicemia pós-prandial. Logo, menor risco.
Vale também lembrar que mesmo os DM2 que têm insulinização plena (com insulina basal e bolus) costumem “pular” exatamente as doses de insulina nas refeições -- seja para evitar as injeções ou porque consideram "desnecessário". O esperado é que a insulina inalável ajude a mudar essa atitude.
Mas nem tudo são flores. A Afrezza é contra-indicada para fumantes e aqueles com problemas pulmonares crônicos. Além disso, quem quiser usar a nova insulina inalável deve fazer anualmente o exame de espirometria, que avalia a capacidade pulmonar.
O preço – sempre um problema – ainda não está definido, mas muito provavelmente o novo medicamento não será acessível a todos. A limitação das dosagens disponíveis pode ser outra desvantagem, exatamente porque não permite flexibilização das doses de acordo com a necessidade do tratamento.
O produto deve estar disponível no final deste ano. Até lá, vale conversar com o médico/equipe de saúde para saber se a Afrezza pode ser uma boa opção para o seu tratamento. Lembre-se sempre de que tratar o diabetes tipo 2, mantendo a glicemia no alvo durante a maior parte do tempo, garante vida saudável por mais tempo.


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