O assunto da semana no mundo do diabetes foi a aprovação da
venda no Brasil da insulina inalável. O produto é fabricado pelas empresas
Biomm e MannKind Corporation, foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) e atende pelo nome de Afrezza.
Ok, você já leu as informações que circularam na mídia
nos últimos dias e deve ter pensado que não tem nada a ver com você, porque “é
coisa para diabetes tipo 1”. Engano!
Embora a própria mídia tenha destacado o novo produto como “mais
indicado” para o DM1, eu particularmente acredito que a Afrezza possa ser sim um
grande aliado no tratamento do diabetes tipo 2. Uma importante ferramenta para
ajudar a mudar a situação atual da insulinização dos DM2 brasileiros, que não
passam de 10%. (leia Insulina sem estigma - parte 1 e Insulina sem estigma - parte 2)
Por quê? Vejamos!
A nova insulina é aspirada por meio de um inalador, pequeno
e discreto, o que facilita o uso do produto, especialmente nas chamadas
situações sociais. A insulina inalável é vendido em pó, em cartuchos com doses fixas (4,
8 e 12 unidades) que são colocados no inalador. Um procedimento muito simples. Vantagem
para o DM2: menos picadas, menor constrangimento social.
Ok, a insulina inalável apenas reduz. a necessidade de injeções, ou seja, não vai deixar você livre das agulhas. Isso porque a Afrezza é capaz de substituir só as
aplicações de insulina rápida ou ultrarrápida. O chamado “bolus” para cobrir o
carboidrato das refeições ou, se necessário, corrigir uma glicemia elevada. A
insulina de longa duração e ação basal (NPH, glargina, degludeca, levemir) continua
sendo administrada por injeção.
Pode não parecer, mas mesmo assim as vantagens são muitas.
Boa parte dos DM2 insulinizados aplica apenas a insulina basal. Com a inalável,
aumenta a chance de adoção de uma terapia plena, garantindo também o controle
da glicemia nas refeições. Vale lembrar que a Federação Internacional de
Diabetes (IDF - International Diabetes Federation), com base em diversos
estudos científicos, considera a chamada hiperglicemia pós-prandial (depois da
refeição) um fator independente de risco para a doença macrovascular (do
coração), com impacto também no aumento do chance de desenvolver outras complicações, como
retinopatia, câncer e comprometimento da função cognitiva.
A Afrezza, além de ser mais prática para uso na hora das
refeições, apresenta – segundo o fabricante – a vantagem de ter uma ação mais
rápida do que as demais do mercado. É
absorvida rapidamente pela corrente sanguínea e começa a agir em 10 minutos,
com pico de ação em 15 minutos, e um efeito que dura de 2 a 3 horas. Isso
significa mais eficiência para controlar a glicemia pós-prandial. Logo, menor
risco.
Vale também lembrar que mesmo os DM2 que têm insulinização
plena (com insulina basal e bolus) costumem “pular” exatamente as doses de insulina
nas refeições -- seja para evitar as injeções ou porque consideram "desnecessário". O esperado é que a insulina inalável ajude a mudar essa atitude.
Mas nem tudo são flores. A Afrezza é contra-indicada para
fumantes e aqueles com problemas pulmonares crônicos. Além disso, quem quiser
usar a nova insulina inalável deve fazer anualmente o exame de espirometria, que
avalia a capacidade pulmonar.
O preço – sempre um problema – ainda não está definido, mas
muito provavelmente o novo medicamento não será acessível a todos. A limitação
das dosagens disponíveis pode ser outra desvantagem, exatamente porque não
permite flexibilização das doses de acordo com a necessidade do tratamento.
O produto deve estar disponível no final deste ano. Até lá,
vale conversar com o médico/equipe de saúde para saber se a Afrezza pode ser uma
boa opção para o seu tratamento. Lembre-se sempre de que tratar o diabetes tipo
2, mantendo a glicemia no alvo durante a maior parte do tempo, garante vida
saudável por mais tempo.